A abordagem feminista no filme Barbie
Por Debora Junqueira
A evolução da boneca Barbie, criada em 1959, pela Mattel, reflete mudanças significativas no comportamento feminino e na sociedade em geral. Ao longo do tempo, a Barbie se adaptou às transformações nos papéis de gênero, aspirações profissionais, diversidade e representações culturais. Por outro lado, também sempre exerceu influência na construção social do comportamento feminino.
Uma das críticas feitas a marca Barbie é que, historicamente, ela perpetuou certos estereótipos femininos, principalmente relacionados aos padrões de beleza e comportamento. Símbolo de alienação para a esquerda, ao mesmo tempo, a Barbie é rechaçada pelos conservadores, como se viu nas críticas feitas ao filme Barbie, de 2023, de que ele era “ideologizado e feminista demais”.
No livro “Barbie e o império da Mattel”, o autor Robin Gerber resgata a pré-história da boneca explicando como sua criadora revolucionou a indústria dos brinquedos. Barbie foi inspirada pelas “Bild-Lilli”, uma boneca erótica de plástico popular na Europa nos anos 1950. A análise é de que a boneca adulta permite que a criança se coloque em uma posição diferente de ser somente a mãe de uma boneca bebê, podendo alterar papéis definidos pelo patriarcado. Essa transformação na maneira de brincar com uma boneca é mostrada nas primeiras cenas do filme. A tentativa parece ser de resgatar para a marca, a partir de elementos do feminismo, a imagem da boneca como ícone de empoderamento das mulheres.
O debate em torno do filme Barbie ressuscitou antigas polêmicas em torno da boneca mais famosa do mundo. O filme Barbie, dirigido por Greta Gerwig, de 2023, faz uma autoanálise crítica e humorística, explorando as suas próprias contradições e limitações. O filme é frequentemente elogiado por suas mensagens de empoderamento feminino. A representação da Barbie como uma figura que questiona seu propósito e busca autoconhecimento é vista como uma celebração da autonomia e da liberdade feminina.
No entanto, a abordagem do feminismo no filme está dentro de um contexto de autocrítica. A partir de vários elementos, tem a pretensão de provocar uma reflexão sobre o significado de ser feminista e levanta interpretações e críticas. O filme aborda tanto as conquistas quanto as críticas ao feminismo branco e suas limitações. A narrativa também apresenta uma reflexão sobre como as estruturas patriarcais afetam tanto mulheres quanto homens, utilizando o personagem Ken para explorar o impacto do patriarcado na identidade masculina.
Em artigo, o pesquisador em gênero da Universidade de Paris, Kévin Bideaux, avalia que o argumento “feminista” do filme se baseia no empoderamento das Barbies para assumir qualquer trabalho sem renunciar à sua feminilidade, à moda, à maquiagem ou ao cor-de-rosa. O viés feminista seria, portanto, um argumento utilizado para promover a boneca e contrapor os críticos que veem na Barbie um modelo estereotipado de feminilidade e um ideal de corpo idealizado, fonte de complexos para as mulheres.
Nesse aspecto, pode-se dizer que o filme faz parte de uma campanha de femvertising baseando-se numa retórica pós-feminista da “feminilidade poderosa” que na verdade reproduz clichés sexistas. O termo combina as palavras "feminismo" e "advertising" (publicidade, em inglês) para descrever uma estratégia de marketing na qual as marcas utilizam mensagens de empoderamento feminino e temas relacionados ao feminismo para promover seus produtos ou serviços. O objetivo do femvertising é não apenas vender produtos, mas também promover uma imagem positiva da marca, alinhando-se a valores sociais de igualdade de gênero e empoderamento feminino.
A popularidade do filme e a discussão gerada ao redor dele são vistas como reflexo de seu apelo não apenas para um público jovem, mas também para adultos, especialmente mulheres, que cresceram com a Barbie e têm um relacionamento nostálgico ou crítico com a marca. Dessa forma, o filme da Barbie faz parte de uma grande campanha de publicidade para renovar a imagem da boneca mais famosa do mundo. Ao arrecadar mais de US$ 1,4 bilhão, Barbie entrou para um seleto clube de apenas 15 filmes que já faturaram tanto, segundo dados de setembro de 2023, no portal UOL.
Debora Junqueira, jornalista e especialista em desenvolvimento pessoal de mulheres.
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